RODEIO:
OPORTUNIDADE DE CONVIVENCIA
Sei que os tempos mudam. Sei que os
hábitos e costumes da década de 1990 não são os mesmo de hoje. Sei que o
tradicionalismo gaúcho sofreu forte alteração na área artística nos últimos 20
anos. Mesmo assim, me arrisco a propor uma reflexão sobre os rodeios, a forma
de realizá-los, as formas e objetivos de participação e, com tudo isso, um
breve exame dos objetivos da sua realização.
Em março de 2003 publiquei um
editorial, neste mesmo espaço do Eco da Tradição, tratando dos rodeios crioulos
e me referindo à área campeira. Naquela oportunidade escrevi sobre os objetivos
dos rodeios.
Hoje, passados quase 12 anos,
continuo acreditando nas mesmas coisas, ou seja, que o rodeio existe para
preservação da cultura gauchesca, oferecer oportunidade de lazer, obter algum
lucro para financiar as atividades anuais da entidade promotora e, acrescento:
é uma oportunidade de convivência, de ver e rever amigos, de fazer novos
amigos, de sair um pouco da corrida diária e ter tempo para uma boa conversa,
um mate largo, saborear uma boa declamação ou se emocionar com um grupo de
danças.
A área campeira dos rodeios, nesses
quesitos, está melhor do que a área artística. Digo isso porque as pessoas
envolvidas com as provas campeiras, notadamente o tiro de laço, acampam no
rodeio. Montam suas cozinhas. Tiram o tempo para um bom mate. Conversam com os
parceiros e com o vizinhos de acampamento.
A questão mais intrincada está na
área artística. Poucos acampam e quase ninguém organiza cozinha. A maioria dos
CTGs somente se preocupa com os grupos de danças e, por isso, organizam suas
viagens e o tempo que permanecem no rodeio de acordo com a apresentação dos
seus grupos. Os concursos individuais estão desaparecendo. Tem sido comum a
participação do mesmo CTG, melhor, do mesmo grupo de danças, em dois ou três
rodeios no mesmo final de semana. Essa prática impede que a entidade fique num
rodeio, impede que conviva com os outros participantes e fortalece unicamente o
interesse pelo premio, em dinheiro, que o rodeio oferece.
Para o organizador do rodeio, não há
qualquer vantagem com a prática atual de participação em vários rodeios no
mesmo final de semana. Os concorrentes não pagam ingresso, não há cobrança de
inscrição, os grupos de danças nada consomem no rodeio, mesmo porque ficam ali
somente o tempo necessário para apresentar-se e, além disso, há sempre
problemas com a programação. Os organizadores “ajeitam” a programação para
esperar um grupo de danças que está vindo de outro rodeio.
Será esse o caminho que desejamos
para o Movimento? Será que o único e grande objetivo deve ser o de ganhar o
premio do rodeio? Não será esta prática uma forma de privilegiar os “grupos
grandes” os CTGs mais estruturados?
O que proponho é simples:
estabelecer uma regra em que cada grupo de danças somente possa ser premiado
com dinheiro em um rodeio por final de semana. Se quiser concorrer em dois
rodeios pode, mas somente pode ser premiado no primeiro que participar. Mesmo
que vença também o segundo rodeio, não receberá o prêmio.
Além dessa medida que pode ser
adotada por decisão de Congresso Tradicionalista, ainda podemos estimular a que
os promotores de rodeios voltem a programar fases classificatórias o que
oportunizará aos concorrentes apresentarem-se duas vezes.
Tudo isso para nossa reflexão. No
congresso de Uruguaiana vamos debater o tema e adotar alguma medida que
favoreça a convivência dos tradicionalistas nos rodeios.
Dezembro de 2014
Manoelito Savaris
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